01 março 2007

Estou indo embora

Danilo Augustus


Estou saindo do blog... não estou me sentindo motivado a continuar.
beijos e abraços.

21 janeiro 2007

Sentimentos... quem os entende?

Texto: Danilo Augustus
Foto: Christof Wittwer

Estava conversando com uma amiga pela internet e ela estava comentando comigo sobre um garoto que ela estava afim, porém, não está mais, ou ainda está, sei lá. Assim como essa crônica começou confusa, acredito estar assim a cabeça dessa minha amiga: confusa.

Enquanto eu lia o que ela escrevia, comecei a perceber que as pessoas querem estar no controle de tudo. Saber de tudo, contar de tudo, conversar de tudo, saber o que se está sentindo, no entanto, não percebem que é impossível.

Sei que posso estar não agradando muitas pessoas que pensam que é possível, principalmente na última parte, a de saber o que se sente. Acredito que seja impossível pois inúmeras vezes nos enganamos com os nossos sentimentos.

Já senti amor por várias meninas e que, por fazerem algumas coisas, desgostei delas num segundo. Isso era amor? Claro que não. Muitas vezes odiamos as pessoas sem nem ao menos trocar algumas palavras com elas. Bate uma antipatia na hora em que a vemos, e muitas vezes nos enganamos e é justamente, dessas pessoas que mais nos aproximamos e nos tornamos amigas.

Acredito que essa coisa de errar o que se sente é o barato do ser humano. Seria muito chato se acertássemos os nossos sentimentos. Até porque, não ficaríamos mais tristes, e necessitamos de estar tristes de vez em quando. Não seríamos mais surpreendidos com as pessoas ao nosso redor. Saberíamos exatamente quem seria aconselhável contar aquele grande segredo que temos medo até de nós mesmos saber.

Não consigo ver um mundo sem imperfeições e, mesmo que esse mundo existisse, nós não existiríamos, já que somos imperfeitos. Agora me pergunto: e se fossemos perfeitos, que mundo viveríamos? E logo respondo: num mundo chato, tedioso, sem pretensão de crescer, sem pretensão de querer sempre acertar.

Conversando com essa minha amiga, perguntei se poderia fazer uma crônica sobre o que estávamos conversando e ela aceitou, porém, me pergunto: o que seria de mim se não houvessem erros ou então imperfeição? E logo respondo: seria chato, tedioso e sem pretensão de crescer, sem pretensão de querer acertar sempre.

16 janeiro 2007

Jornalismo investigativo? Cadê?


Texto: Danilo Augustus
Foto: rabisco.com.br
Venho enfrentando um conflito dentro de mim e que se eu não decidir, meu futuro pode estar em jogo. Nos últimos dias, tenho prestado mais atenção nas aulas, seja por causa dessa escolha que tomei e preciso estudar um pouco mais e estou percebendo que os jornalistas estão perdendo uma coisa fundamental e que vem se tornando um gênero da classe, o investigativo.
Todo jornalista sabe que para se fazer uma matéria tem que ter uma boa pauta, depois, correr atrás das fontes e informações para complementarem a matéria. É nessa área que os jornalistas estão pecando. Não estão aprofundando nas suas pesquisas, fazendo com que as reportagens estejam ficando apenas superficiais.
Conversando com alguns professores, eles me alertaram para um estilo de jornalismo que está se acabando e concordo. O jornalismo investigativo. Este estilo ficou conhecido através de um jornalista e escritor chamado Truman Capote, que ficou mundialmente conhecido através do livro reportagem, A sangue frio, resultado de uma de suas investigações como jornalistas em busca de uma matéria.
Um filme que retrata não só a vida de Truman, como também do jornalismo investigativo é Capote. Mostra exatamente como o jornalista conseguia subsídios para escrever seu livro. Outro filme que recomendo para quem quer saber e ver como trabalham esses jornalistas é só procurar por Todos os homens do presidente.
Depois de ver esses filmes, continuei conversando com meus mestres e percebi que o que está acontecendo nos dias de hoje, é a pura falta de jornalismo investigativo. O que vemos é denúncias em cima de denúncias. Isso não muda em nada e já podemos ver isso claramente. Quando o povo brasileiro conseguiu que o ex-presidente Collor caísse por causa do impeachment, todos ficaram alegres.
O atual presidente/ex-candidato, teve muito mais denúncias que Collor, porém, não conseguem tirá-lo de lá. Prova disso é a eleição, que quase o levou a ser reeleito no primeiro turno. Agora, depois de escrever tudo isso me pergunto: o que aconteceria se tivesse mais jornalismo investigativo?

12 janeiro 2007

Um passeio no Shopping

Texto: Danilo Augustus
Foto: inouedp.co

Há alguns anos atrás, meu primo, meu irmão e eu, costumávamos ir ao shopping quase que todo final de semana, nem que fosse para tomar uma casquinha de sorvete e passear, para esquecer nossas vidas atarefadas (coisa de gente pré-adolescente).

Num desses finais de semana, os dois me deixaram de lado num papo, o que no momento, senti muita raiva. Tudo começou com uma discussão de qual filme assistiríamos. Por fim, vimos um desenho que estava em cartaz que se chamava Os Incríveis.

Quando entramos na sala de cinema, me dirigi para a esquerda e os dois, para a direita. Como estava faltando cerca de 10 minutos para começar a sessão, eles começaram a gritar para que eu sentasse perto deles, o que recusei.

Depois de alguns minutos, desistiram de insistir, porque dali, não arredava o pé. Quando começou a sessão, dois garotos, aparentemente da nossa idade, começaram a procurar assentos, como havia dois lugares ao meu lado, ofereci, e logo eles aceitaram.

Começou o filme, e percebi que aquela sessão não seria normal. Ao meu lado direito estava duas meninas e ao lado delas, um menino que a acompanhavam que era meio bobo. Meio não, completamente bobo.

Ele se assustava com tudo, e como crianças que éramos, eu e os dois garotos que sentaram ao meu lado, brincávamos e tirávamos sarro de tudo o que o garoto falava. Um deles se chama Pablo, e ele me pediu para que pedisse a uma das meninas o telefone, e foi o que fiz.

A menina deu e eles marcaram de se falar depois do filme. Como a brincadeira e a risada estavam boas, trocamos telefone, Pablo e eu, para marcarmos de jogar futebol alguns dias depois.

Acabou a sessão e fui para casa. Dois dias depois me liga o Pablo me chamando para bater uma bola no meu bairro. Estranhei, pois pensava que ele não morava em Osasco, minha cidade, e sim em São Paulo, mas fui ao seu encontro. Quando nos vimos, conversamos bastante, deixando o futebol de lado.

Ele na verdade, morava e mora ainda, no mesmo bairro que eu. Depois disso, marcamos algumas vezes de jogar bola e para conversar. Com ele já fui de templo budista a parque. Hoje somos amigos, quase irmãos.

É engraçado que, tive que ir até o shopping, ter a “discussão” com meu irmão e primo, escolher sentar sozinho, oferecer a cadeira ao meu lado para ele e seu amigo, trocarmos telefone para nos conhecer.

Não sei se isso se chama predestinação ou destino, só sei que, para desembargo de consciência, começarei a pedir telefone para todos que passar na rua. Quem sabe um deles será meu amigo ou minha namorada?

08 janeiro 2007

Sem Fronteiras

Texto: Allan Gianni
Foto: Anna
















Você foi até o limite...Você cruzou as fronteiras...Sem medo, sem arrependimentos...Fez o que devia ter feito desde o início...Acreditou num sonho e sentiu a realidade tocar seu rosto quando ele deixou de ser só sonho...Você conseguiu...Foi, viu e venceu...Entregou teu coração sem medo de algo dar errado, pois ter medo dos erros é se tornar escravo deles...Elevou a felicidade exponencialmente e pela primeira vez conheceu a felicidade plena...Fez alguém sorrir e te querer, mesmo que o efeito da visão desse oásis tenha se desfeito rapidamente...Você foi um herói, porque poucos se lançariam nessa desenfreada jornada em meio aos gigantes...Poucos agüentariam seus golpes, enfrentariam suas expressões e dançariam alegremente no meio deles...Poucos encontrariam o caminho se guiando pelas estrelas, e quando elas lhes faltassem, ninguém além de você chegaria a seu destino se guiando por sentimentos...Porque você sentiu...Você correu, sorriu, tocou, lutou, pediu, ganhou, ouviu, negou, chorou, caiu, levantou... mas nunca, jamais, se entregou...Você venceu...E isso bastou


05 janeiro 2007

2007

Texto: Bruno Rodrigues
Foto: Michael Jastremski


Mente vaga, em fase de transição.
Querendo mais da vida.
Querendo mais das pessoas.
Querendo mais do mesmo!

2007 está aí; e aí?

Ano novo, vida nova??
Ano novo, coisas novas
Conquistas, vitórias
Perdas, derrotas

Quero viver, apenas isso
Conquisto por natureza
Do resto só quero aproveitar
Intensamente, e isso me lembra alguém!

Coisas sólidas, seguras,
Não rotineiras, mas tranqüilas.
Talvez repetidas, mas gostosas
Não forçadas, mas desejadas

Aprendendo a viver
Entendendo
Aprendendo a entender
Vivendo

Uma regra simples
Algo que não tem teoria
Sem explicação
Basta apenas viver

Deixar rolar

Em 2007 eu só quero duas coisas:

Uma delas é conquistar intensamente........
A outra, é VOCÊ!

31 dezembro 2006

Quem sou?


Texto: Danilo Augustus
Foto: planetaparaty.com.br
Minhas aulas terminaram faz uma semana se eu não me engano, e num desses dias estava saindo da faculdade e encontrei uma amiga que me perguntara se tinha um passe para ela voltar para casa. Recusei, mas ofereci dinheiro suficiente para ela pegar um ônibus. Ela aceitou e me chamou para esperar o ônibus no ponto com ela. Como fazia tempo que não conversava com ela, fui.

No trajeto nos perguntamos o que de interessante acontecera nos últimos meses em nossas vidas. Conversamos sobre a faculdade, emprego. Quando chegamos no ponto, ela me fez uma pergunta: Como você se vê daqui a dez anos?

Fiquei sem saber o que responder na hora. Lembro-me que foram alguns minutos de silêncio e depois respondi: Estar vivo. Ela sorriu e logo seu ônibus chegou. Nos despedimos e ela foi-se embora.

Garanto a vocês que fiquei me perguntando o que eu gostaria de estar vivendo, como eu gostaria de ser, daqui a uma década. Fiquei pensando durante o trajeto até minha casa. Foi quando resolvi perguntar pra mim mesmo, o que eu estava fazendo naquele momento, pois como bem sei, o que faço hoje, reflete no futuro.

Respondi a mim mesmo que estava lendo pouco, cerca de um livro por mês. Lendo jornal todos os dias, porém, não estava escrevendo o suficiente, ou como gostaria. Não estava empregado, o que resultaria em algumas dificuldades para atingir o que quero, mas não estava indo mal.

Comecei a pensar em todas as atitudes, comportamentos e ações que estava tendo com outras pessoas e comigo mesmo. Percebi que, muitas vezes, estava distante de minha família e me centralizando em tudo o que fazia. Percebi não só isso, mas também que eu estava em mudanças drásticas: musicalmente, indumentária, linguagem e de religião.

Com uma conversa com essa minha amiga, ela conseguiu me abrir os olhos e eu a enxergar-me e a enxergar aos meus próximos.

Quem sou? Não sei, mas estou descobrindo.

29 dezembro 2006

Linha Imaginária

Texto: Allan Gianni
Foto: co.tompkins.ny.us



"... Eu teria meus motivos para deixar aquela cidade, pois em cada poste havia uma foto de um alguém que não conheço mais. Eu andava pelas ruas e em cada muro, alguma porta se abria me transportando para outra realidade: aquela em que vasos foram quebrados, palavras foram ditas e corações dilacerados em questão de minutos. Enquanto ela pegava suas coisas, só o que pude fazer foi sentar no meio-fio com meus pensamentos. Ao vê-la passar do meu lado, foi como se me fosse tirado algo de importante, de vital. Mas doloroso mesmo foi o momento em que um de nossos porta-retratos caiu no chão. Foi como se uma grande parte de nossa vida virasse caco de vidro espalhado por aí. Ela olhou, secou a lágrima e se foi.

A chuva começou a cair e a molhar o resto do mundo, mas a pior enxurrada acontecia dentro de mim, numa mistura de amor, ódio e tristeza. A melancolia foi tanta que acordei do transe, sozinho na rua, em frente aos postes, me perguntando: 'Que diferença eu fiz? Que culpa tive eu? Por quantas ruas mais vou andar sem rumo?'.

E nunca mais fui visto, pois saí pelo mundo atrás dos cacos do porta-retrato, e prometi voltar apenas quando o tivesse montado. A partir daí eu poderia abandoná-lo por aí e voltar a andar tranqüilamente pelas ruas.

Mas um dia me ocorreu que talvez tivesse sido menos doloroso por telefone, pois eu não teria visto que, em seu peito, os sentimentos travavam uma luta tão intensa quanto no meu. As fotos dela nos postes eram tantas que se misturavam na minha cabeça, me fazendo por um momento pensar que estivesse perturbado e que a rua não tinha fim. Foi preciso tirar os óculos, esfregar os olhos e sentar a olhar para o trem que passava próximo a West Side. Mas algo mudou minhas perspectivas. Eu nunca havia visto o pôr do sol daquele lado da cidade, a tocar o horizonte numa linha imaginária. Era como se os raios me abrissem o peito e fizessem o coração bater mais consciente.

Foi nessa hora que me veio à cabeça deixar o porta-retrato de lado, e sair em busca de novas lembranças. Se não foi dentro de um copo que achei a solução como muitos, também não vai ser por aí sentado. Prefiro testar minhas chances seguindo o pôr do sol, pois novos caminhos sempre levam a nós mesmos ”.

27 dezembro 2006

Um macaquinho em nossas vidas


Texto: Danilo Augustus
Foto: cirilovelosomoraes.com.br

Todo mundo que gosta e vê filmes, sabe que desenhos sempre trazem uma lição no final. Tenho assistido a alguns títulos nas últimas semanas, já que estou de férias e não tenho mais nada a me preocupar.

Numa dessas empreitadas, me deparei com um desenho, George, o curioso. Sabia apenas que a trilha sonora tinha sido feita totalmente pelo ex-surfista, hoje cantor, Jack Jonhson. Como curto as músicas dele, não demorei a alugar.

Liguei a tv, dvd e me pus a assistir junto com meu pai numa tarde de quinta-feira. Vendo o filme, comecei a perceber quanta grandeza e lição que tem no desenho. Comecei a enumerar o que de ensinamento que tinha. São essas:

1- Como ficamos admirado e ao mesmo tempo assustado quando surge uma coisa nova em nossa vida.
2- Percebi que a inocência do macaquinho, se parece com a da minha priminha de 2 anos.
3- Como a inveja pode prejudicar não somente a pessoa invejada, mas também o invejoso.
4- Como somos diferentes até na hora de dormir.
5- Percebi que não damos a natureza seu real valor.
6- Notei também que não é só o mais velho ou o mais sábio que pode ensinar. Todos aprendem, todos ensinam.
7- Como nossas vidas estão cheios de aventuras e só percebemos se estivermos receptivos em relação a isso.
8- Notei o quão importante pode ser uma mão amiga. O quão necessária ela pode ser, principalmente nas horas difíceis da vida.
9- Como as pessoas tem maneiras diferentes de enfrentar situações adversas.
10- Me veio um questionamento quando vi a cena do macaquinho sendo preso pelo controle de animal: Quem decide o que é importante para o outro? Nós ou a sociedade?
11- Uma das últimas coisas que percebi e que retratei numa crônica passada: as pessoas mudam, passam pela vida da gente, mas os momentos que vivemos ao lado delas, permanecem em nossa lembrança.
12- E a última coisa que percebi é que fazer o bem é mais fácil que fazer o mal.

Pode parecer idiota falar todas essas coisas. Uns vão perguntar: você não sabia disso? Responderei: sim... sabia sim, mas desenhos serve para isso mesmo: lembrar do que já esquecemos e vemos filmes assim, para perceber que se fizermos nossa parte, poderemos mudar alguma coisa.

24 dezembro 2006

Poente em tom rosé


Texto: Allan Gianni
Foto: Wolfgang Arnold


Há tempos ele não sentava na relva para ver o poente. Tão lindo poente! Chega a ser irônico: esperar um dia inteiro por um momento que dura tão pouco. Às vezes penso que o poente devia ser eterno, mas onde estaria a graça? Não seria nada de mais. Apenas um poente. Mas retornemos ao que realmente interessa.

Ele sentou-se na relva como costumava fazer tempos atrás no final das tardes. Escolheu um lugar calmo dentro dos limites do parque e sentou-se para observar a vida. Tudo aquilo que os últimos raios-de-sol tocavam era vida. Vida in natura. A brisa leve que tocava a pele, as crianças que brincavam no banco de areia, a correção de pequenas formigas que trabalhavam em prol do inverno, etc. Pura e simplesmente vida. Havia uma grande lagoa à sua frente. Um espelho! Definitivamente aquilo era um espelho. Não. Não mesmo. Era um quadro. Um poente pintado a óleo, em tom rosé. Abençoado seja o artista que o pintou. Abençoados sejam todos os artistas que, de certo modo, retratam um poente em sua arte. E nos brindam com ela.

Foi então que ele a viu. Sentada próximo da lagoa, num pequeno banco da praça a alimentar os pombos. Ela tinha cabelos negros na altura do ombro e olhos de uma cor clara, que refletiam o poente pintado na água. Ela era tão linda que causava um certo receio de se aproximar. Ele parecia um adolescente recém enamorado, ávido por uma reserva de coragem. E quando finalmente resolveu se levantar, duas novas figuras estacionaram a seu lado a contemplar o parque.

Eram dois homens altos, ambos de branco e com um certo tom de gravidade no olhar.
- Que faço com o senhor? Resolveu passear pelo parque outra vez.
- Preciso desses momentos para me sentir vivo, filho...
- Sabe que às vezes chego a me perguntar do porquê de o senhor estar nessa situação?
- A vida não é justa, meu jovem. Mas é sábia.
- Vamos. Está esfriando. Hora de o senhor entrar e se aquecer.

Os dois homens ajudam o homem a se levantar, pois as marcas da idade estão mais evidentes do que nunca.

Enquanto aquele homem de idade avançada era levado de volta para uma das alas do hospital psiquiátrico, olhava pra trás em resposta ao último aceno da última criança que brincava no parque. Mesmo parque onde ele conheceu sua falecida esposa, cerca de meio século atrás.

O parque já não tinha seu brilho de antigamente. Crianças já não brincavam ali há anos, os brinquedos enferrujaram, o banco de areia virou dormitório de cães e o mato tomou conta da relva. Mas, aos olhos de um louco, até mesmo esse parque, que hoje é apenas uma lembrança, é a prova mais clara de que um poente em tom rosé pode mesmo ser eterno.

22 dezembro 2006

Mulher tem sempre razão


Texto: Danilo Augustus
Foto: poesialusa.blogs.sapo.pt

Desde o começo do ano, tenho andado meio isolado do pessoal restante da minha sala. Não, não é porque estejam me desprezando. É que, como não tenho grupo fixo para fazer os trabalhos, fico sozinho, ou então, no primeiro grupo que me chamar, até porque, não sei se será o único.
Já fiz tarefas com todos, no entanto, venho trabalhando nos últimos meses com um grupo onde só tem mulheres (coisa freqüente quando se faz jornalismo). Aí pergunto: Quem entende as mulheres? Se alguém que está lendo responder em afirmativo, direi que está mentindo, pois nem elas mesmas se entendem.

Como são trabalhos difíceis de se terminar, temos que fazer várias “reuniões” (coisa que mulher adora para por o papo em dia. Se não fosse na reunião, quando seria?).

Resolvi escrever um trecho dessa humilde crônica sobre essas reuniões que, nelas, acabei conhecendo um pouco do que as mulheres pensam. No começo de cada reunião, todas estão loucas para que discutamos sobre o trabalho, no entanto, é só uma falar sobre alguma promoção ou namorado, ou então dos dois, uma promoção de namorados, que a reunião se ausentará por no mínimo meia hora, ou mais.

Outra coisa engraçada na reunião, é que as mulheres, quando estão discutindo algum assunto, se alteram, provocando assim uma disputa para saber quem fala mais alto, ou então, quem consegue falar por mais tempo. Quando isso acontece, o melhor a fazer, é ficar quieto, esperar a mulher parar de falar, o que é difícil, e depois dar sua opinião, mesmo que não seja ouvida.

É nesse ponto que eu queria chegar leitor. Mulher tem sempre razão. Essa máxima não tem alteração. Não importa se ela mulher é sua mãe, irmã, prima, esposa, sogra ou até a empregada da sua casa. Se for mulher, elas terão sempre razão.

Quando não tem razão, o que é quase impossível de se acontecer, elas fazem de tudo para você crer que sim. Caso isso não aconteça, elas apenas param de te ouvir. Simples não?Outro dia eu vi um casal discutindo, e como sou curioso, comecei a ouvir. Era mais ou menos assim: o cara tinha sabido por uma amiga que ela estava o traindo e ele foi conversar com a namorada para descobrir a verdade. No final das contas: ela estava traindo sim, porém, começou a chorar e a falar que ele não compreendia a solidão que ele a deixava passar. Ele por fim, prometeu que passaria mais tempo com ela.

Não entendi. Ela errou, colocou a culpa nele e ele ainda prometeu que melhoraria. Quando eu falo que mulher tem sempre razão meu amigo não concorda.

Estávamos conversando sobre esse assunto e ele comentou que a namorada dele tinha dado um presente para ele, no qual aprovou no mesmo instante e me perguntou se tinha feito a coisa certa. Disse que sim. Ele falou que ele não tinha gostado e que tinha mentido pra ela. Falei que era a melhor coisa, pois se contasse a verdade, eles discutiriam, e no final das contas, ele se sentiria culpado. Ele deu risada e foi falar com ela. Algumas horas depois, nos encontramos novamente e ele me deu razão.

Não estou falando que mulher manipula o mundo, só estou dizendo que a mulher manipula o homem, e é por isso que estou terminando de escrever essa crônica, até porque tenho que conversar com minha namorada que está brava comigo. Acho que não fiz nada de errado, mas ela diz que sim.

21 dezembro 2006

Megalômano

Texto: Bruno Rodrigues
Foto: Li Sun


O encanto, o grotesco, a beleza e o espanto
Sentimento, medo e proteção
Eu sonho, porém não me iludo
Sarcástico, real e imaturo
Um pouco sincero demais, um pouco desnudo

Escrevo sem copiar e sem seguir regras
Apenas escrevo
Não me importo com os dois quartetos
Objetivo é tudo
Falo, penso e mudo.

Mudo minhas atitudes, mudo meu pensar
Danço conforme a música
Mas não a música imposta,
E sim a música querida

Viro, reviro e fuço
Vou atrás,
Caço o descaso
Organizo a bagunça
Bagunço a confusão

Te deixo inquieto
Incomodado
Transtornado
Perdido
E com inveja

Me acho, um fraco forte
E um forte fraco
Sou belo e feio
Me acho e me perco
Mas estou sempre no mesmo lugar
Assim sigo adiante

Nem tão romântico, nem tal durão (Aliás os durões são homossexuais)
Na medida exata, no ponto certo
Nem demais, nem de menosApenas aprendendo, apenas vivendo

18 dezembro 2006

A importância de se ter alguém por perto- Pt. 2

Texto: Allan Gianni
Foto: Christof Wittwer


Nos últimos dias tenho andado em meio a um tornado de emoções, pensamentos e preocupações, salpicado de algumas idéias, muitos sorrisos e uma ou outra lágrima também. Mas vamos ao que interessa realmente porque afinal é pra isso que vocês estão aqui. Hoje eu resolvi continuar na área de relacionamentos, mas vou abordar um ponto diferente: Por que se apaixonar é tão complicado? Calma, caros leitores. Não digo isso com sentido negativo, porque afinal se apaixonar é bom. Estar apaixonado é estar conectado com alguém, é estar em outra dimensão, é beber a água fresca direto da fonte, é pura e simplesmente viver. O problema, ou deveria dizer a complicação, é que estar apaixonado não á fácil. O motivo: você não se apaixona sozinho. Quando você é laçado por um olhar, por uma voz ou por um jeito de ser, você nunca sabe o campo em que pisa antes que alguma mina te dê um susto daqueles. Você pode acordar um belo dia e ver alguém do seu lado, chegando assim à conclusão de que realmente era prá ser. Mas você pode também, segundos depois da derradeira confissão, vir a saber que era só você quem sentia aquilo e que a outra parte no máximo sentia aquilo outro (rss)... É aí, meus amigos, que o homem passa por maus bocados. E por quê? Por acaso alguém sabe decór e salteado o processo de desapaixonização? Claro que não, porque é nessa hora que o homem se sente mais vulnerável e depois de duras penas vai simplesmente se recuperando. Não há analgésico, antibiótico ou vacina que resolva. A cura é simplesmente o próprio tempo. Mas eu nem de longe vim aqui prá falar do lado difícil da paixão. Eu vim aqui prá dizer: Que importa? Sofra, chore, grite, corra, esperneie... mas viva. Que somos nós se formos deixar de viver algo por medo? Lembrem, meus amigos, que a única coisa irreparável é a morte. Eu já chutei tanto o pau da barraca que já sou mal-visto em acampamentos, mas devo me arrepender? Arrisco dizer que não, nem por um momento sequer. Os próprios sintomas fazem tudo valer a pena. Você não dorme, porque um alguém está povoando teu pensamento e não quer arredar pé. Você não presta atenção em nada, porque um certo alguém te levou numa viagem prá um lugar que, embora longínquo, é lindo. Você sorri como um tolo no meio da rua, porque você lembra do sorriso desse alguém. Alguns até não comem, porque o sentimento encerrado no peito se alastra pelo corpo levando fome, sede e cansaço embora. Você se sente feliz, pelo simples fato de que o lado bom de amar é que você, um simples mortal, durante algum tempo, se sente o maior homem do mundo. Por quê? Porque você ama alguém especial. Um alguém que prá você, naquele momento, é insubstituível. Esse alguém, durante algum tempo, vai te levar a sentir-se vivo como jamais esteve. Vai te fazer sentir confiança em dar qualquer passo, em rolar os dados, em cantar na chuva... vai te levar a se sentir livre. Pouco importa se, num certo momento, você descobre que só você sonhava tudo isso, desde que se lembre de que era feliz nesse sonho. Desde que se lembre que nada na vida te impede de sonhar o quanto quiser. Acordou? Vire o travesseiro, feche os olhos e pronto, meu caro. A vida é muito curta pra ficar se arrependendo. Feche os olhos, sonhe, apaixone-se e viva. Agora com licença, que vou ao encontro do meu travesseiro. Tenho um encontro marcado com alguém...

16 dezembro 2006

Futuro sem lembranças

Texto: Danilo Augustus
Foto: Gerhard Spinotti
Estava voltando da faculdade e pensava na vida. Passei por algumas ruas costumeiras, quando me deparei com uma lembrança: uma casa simples, com um banquinho e uma árvore na porta da frente.
Toda minha infância na pré-escola me voltou à mente, quando vinha com meu pai e conversávamos sobre como fora o meu dia de brincadeiras e travessuras na escolinha sentados no banquinho, em baixo da árvore.
Não estou com saudosismo mas, às vezes, sinto falta de encontrar uma árvore e poder sentar e conversar com meu pai, esquecendo do tempo e dos trabalhos do cotidiano que nos impedem de viver uma vida mais tranqüila.
Lembro que, nessa conversa que tinha na infância, era sempre eu quem falava e meu pai só ouvia: ora meus gritos entusiasmados, ora meus risos altos. Muitas vezes eu levantava para mostrar-lhe uma determinada cena que acontecera comigo minutos antes e ele só me olhando com cara de fascinação e com o pensamento de que seu filho estava crescendo.
Rememorando minha infância, recordo logo dos parques aos quais minha família ia aos finais de semana para passear e fazer um piquenique. Era gostoso ficar conversando com eles e comendo debaixo de uma árvore e, em uma delas, eu até tinha feito um coração com as minhas iniciais e as da minha namorada. Pensando bem, eu não tinha idade nem para saber o que era beijo, imagine para namorar.
Num desses passeios, eu lembro que fiquei encostado em uma das árvores do parque para descansar um pouco, pois pedalara demais. Foi quando eu vi o pôr-do-sol mais exuberante da minha vida. Era um montante de cores e vibrações que até hoje não me esqueço.
Alguns anos depois, me via nesse mesmo parque me encontrando com meus amigos para conversar, jogar baralho e ver as meninas correndo pra lá e pra cá. Nessa mesma época, havia uma árvore perto de casa em que, todo sábado, fazíamos uma fogueira ao redor e transformávamos o lugar em um luau.
Hoje, quando volto da faculdade, penso que muitos anos se passaram, que muitas coisas mudaram e fico triste ao pensar que muitas crianças no futuro não terão as mesmas lembranças que eu tenho por não terem uma árvore.

14 dezembro 2006

Brasileiro

Texto: Bruno Rodrigues
Foto: Michael Jastremski


Ele estava sentado junto à janela, naquelas cadeiras que ficam de lado e seguem o sentido que o trem viaja. Não sei por quê, mas esse homem tinha algo em particular. Sua fisionomia fisgou minha atenção.

Deveria ter seus 40 anos, cabelos ralos e pretos, magro, 1,75m de altura. Mal vestido, aparentava ser de pouca saúde financeira. Viajava no trem da linha C da CPTM, linha que pertencia à antiga Fepasa. Ia sentido Barra Funda.

Como já disse, sua fisionomia me chamara a atenção. Esta transmitia, em um primeiro momento, tranqüilidade. Eu até cheguei a pensar: “Queria ser assim, calmo”. Mas duas estações se passaram e comecei a questionar a tranqüilidade daquele homem. Daí então percebi: Ele não estava tranqüilo, nem calmo. Estava conformado. Entregara os pontos. Simplesmente vivia, dançava a música que colocaram.

Fiz algo errado, julguei, mas essa idéia estava nítida no rosto daquele homem. Um brasileiro.

O que será que se passava em sua cabeça? Desistira de viver? Trabalho, casa, casa, trabalho. Deve ganhar míseros R$ 600,00 por mês (chutando alto). O que fazemos com esse valor? Porra nenhuma! Será que ele tinha alguém o esperando em sua casa? Uma esposa, filhos, parentes. Será?

Ele com certeza não vai ao cinema, não chama sua “esposa” para jantar fora. Não vai à praia no final de semana. Não compra presentes para seu filho. Não faz surpresas para sua mulher. Não vai ao motel. Não tem carro. Não faz faculdade. Não espera crescer profissionalmente, ter uma cargo elevado na empresa em que trabalha, não pratica esportes, não se cuida. Não leu a “Ética protestante e o espirito do capitalismo”, até porque existem livros mais engraçados. Não vai ao teatro. Não lê o jornal no fim de semana, a não ser a coluna de esportes.

Já dizia Plutarco: “É preciso viver, não apenas existir”.

Bom, ele aprendeu a jogar o jogo do mercado. Aprendeu a trabalhar, e com isso sobrevive. Talvez com muito esforço consiga pagar seu aluguel e viver miseravelmente por uns 60 anos. Putz, ele deve fumar e beber. Talvez viva menos. Mas pagará seu aluguel em dia. Ah, conta de luz, e impostos também.


Ele deve estar bem consigo mesmo. Tranqüilo e conformado como aparentava, até porque ele sorriu. Sorriu para o vendedor que o serviu na compra de um amendoim. Aliás, esses amendoins do trem são ótimos!

Chegou minha estação. “Estação Comandante Sampaio”, anunciou o maquinista através de uma fala alta e chiada, devido ao mau estado dos alto falantes do trem. Desci, passei a porta e ainda olhei para aquele cidadão. Logo vi que estava diante do verdadeiro brasileiro, aquele que nunca desiste. Só não estuda, não adquiri conhecimento, dificilmente consegue crescer financeiramente e socialmente, mas mesmo assim não desiste e está sempre de bem com a vida!

Não luta pela causa certa, mas esta sempre lutando pela sua sobrevivência. Nunca desiste, por mais que esteja no sentido errado.

74% dos brasileiros são analfabetos funcionais, não compreendem nada mais complexo do que um bilhete.
( Fonte: - INAF Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional/ VEJA ed. 1966)

11 dezembro 2006

A importância de se ter alguém por perto- Pt. 1

Texto: Allan Gianni
Foto: regressaami.blogs.sapo


A questão de hoje é: "Relacionamentos - Do céu ao purgatório em questão de segundos" (rss). Brincadeira. Vou falar de relacionamentos sim, mas não de forma tão dramática quanto esse título sugere. Mesmo que um relacionamento possa ser realmente muito instável (não encaro como regra, mas ainda não conheço exceção), é inegável que ter alguém ao nosso lado é simplesmente necessário. Não dá prá ficar muito tempo sem ter alguém prá te abraçar em alguns momentos, alguém prá te fazer rir, alguém prá chamar tua atenção ou prá te apoiar. Nós nascemos com um defeitinho de fabricação que, longe de ser incômodo, nos faz depender de outras pessoas assim como elas dependem de nós. Você deve estar pensando neste momento que eu estou escrevendo bobagens, que isso não tem nexo, e blá blá blá. Mas que atire a primeira pedra aquele que nunca foi dormir pensando em alguém, que nunca se arrepiou de ouvir a voz de uma pessoa antes mesmo de ter visto que ela chegou ou pior: que nunca disse eu te amo. Você pode até ter descoberto depois que esse amor que você pensava sentir não era amor de verdade mas, naquele momento, era "o maior amor do mundo". Partindo então da premissa de que todos já passaram por algo assim, todo mundo nessa vida já dependeu de alguém, já precisou do colo de alguém, já teve o rosto enxugado por alguém. Esse ALGUÉM é necessário na vida prá que essa vida não passe despercebida! Agora virão os machistas e feministas convictos e que pensam que o sexo oposto é mero enfeite: "vivo perfeitamente bem, tenho minha própria vida, etc, etc, etc." Mas que puxem pela memória e me digam que algo, ao menos uma vez na vida, não os fez balançar. Outros virão dizer que sofreram muito, que não acham a pessoa certa, que a vida é mais fácil estando sozinho. Mais fácil? Não, mas é mais cômoda. Você não entende direito a si mesmo, não é? Então prá que tentar entender um outro? Triste equívoco. Olhem, nessa vida nada é fácil e quando se trata de vida a dois, dizer isso já virou lugar comum. Eu bem sei disso, porque já viajei mil quilômetros por um sonho e ele se desfez como um castelo de areia antes que eu pudesse sequer molhar os pés na água do mar. Muitos vão perguntar: valeu a pena? SIM. Os momentos que passei foram inesquecíveis, e são exatamente esses momentos que me fazem querer ter mais momentos que valham a pena não esquecer. Momentos assim nos fazem sentir mais vivos, mais livres mesmo não estando sozinhos. Aos que já passaram por poucas e boas graças a relacionamentos ruins, só tenho a dizer que sempre há uma nova chance e ninguém pode negar isso. Saia, faça algo diferente, vá a lugares inusitados e arrisque falar com as pessoas. Numa dessas empreitadas, haverá sucesso. Não é promessa... é lógica. Ou você pensa que é o único nesse mundo que precisa de alguém? Quanto a mim, quero ter mais momentos memoráveis logo. Talvez logo apareça alguém, talvez já tenha aparecido. Não sei. Só sei que adoro ser surpreendido. E adoro fazer castelos de areia. Pouco importa se a onda o leva... um dia desses a maré abaixa, meu castelo estará a salvo e eu terei do que lembrar. Eu e mais alguém.

08 dezembro 2006

Saudades

Texto: Danilo Augustus
Foto: Comstock


Desde cedo, gostei muito de escrever, ler, pesquisar e saber o porquê de tudo. Foram esses interesses que me levaram a acreditar que poderia ser alguém e, através do jornalismo, que isso poderia se realizar.
Meus primeiros traços como escritor foram bloqueados pela professora da terceira série. Sempre ficava chateado quando ela conseguia interceptar meus recadinhos para qualquer coleguinha, mas principalmente para a Renata.
A Renata sempre foi a mais bela da sala na minha opinião. Poderia surgir uma ou outra, mas para a maioria que convivia comigo, ela era a graça da sala, o sol de cada manhã e o brilho de cada estrela.
Outro dia, estava conversando com ela pelo computador e ela me confessou que ainda guardava meus bilhetinhos, pelo menos aqueles que a professora não conseguia interceptar. Perguntei a razão pela qual ela ainda os tinha. Respondeu-me simplesmente: "É que eu achei tão bonitinho".
Juro que não sei o que tinha de tão bonitinho nos garranchos que eu escrevia no alto dos meus 9 para 10 anos. O que sei é que ela os guardou. E não é qualquer pessoa. É a menina mais bonita da sala, a Renata.
Que glória para um menino que não se dava muito bem com as mulheres. Na verdade, ela foi a primeira menina pela qual me apaixonei de verdade, e acho que até hoje eu sinto falta de gostar realmente de uma pessoa. De verdade, assim como na infância.
Toda paixão na infância é arrebatadora. Precisa-se de um olhar para que nossas mentes masculinas comecem a viajar e fantasiar com aqueles olhinhos te observando. Não é preciso muita coisa para se apaixonar.
E quando esse sentimento não é dividido entre duas pessoas? E quando nosso eterno amor não é retribuído? É aí que ficamos na fossa, mas a fossa da infância é muito diferente da de um adulto. Quando somos crianças, a tristeza acaba quando somos convidados para jogar bola ou brincar de boneca. Quando somos adultos não é tão simples assim.
Quando adultos, nossos amores mudam de intensidade. Não amamos para valer, por medo de sofrer e é esse medo, que nos faz não viver da maneira que vivíamos quando éramos crianças, quando todo momento era de pura alegria e magia.
É dessa fantasia que tenho saudade. Não, não estou sentindo falta da infância que não vivenciei, mas sim, daquela que vivi intensamente. Assim como quase todas as crianças assim a vivem.
Acho que é por isso que crescemos. Para sentirmos falta do que se foi. Do que um dia foi o presente e hoje se tornou lembrança. Olhando para trás, não devemos mirar nossos defeitos e sim, os momentos felizes e as pessoas que nos fizeram bem, para que assim possamos seguir em frente sem ter que nos preocupar se soubemos viver e se fomos felizes um dia.

03 dezembro 2006

Mundo real

Texto: Allan Gianni
Foto: troll-urbano.weblog.com.pt

Ele abre os olhos, pois a luz do sol já atravessa as cortinas e toca seu rosto, fazendo-o sentir que o novo dia começou. Ele levanta, ainda atordoado pelo sono, talvez até cambaleante, e caminha até o banheiro. A água toca seu rosto e ele se sente melhor. É hora de encarar o mundo lá fora mais uma vez . Ele se veste. Faz um lanche rápido, arruma tudo e abre a porta.
O barulho e o cheiro da poluição invadem seu mundo, arrebatando toda e qualquer esperança de ainda estar sonhando. Ele fecha a porta e passa a chave, já que seu bairro não é dos mais seguros, e sai. A algazarra das pessoas indo pro trabalho lhe incomoda, o transito lhe incomoda, a gritaria dos cortiços tem o mesmo efeito. Ele agradece o momento em que chega a seu destino: a biblioteca.
Após os cumprimentos feitos às moças que ali trabalham e que já se acostumaram com as periódicas visitas da nossa personagem, ele se dirige para a seção onde passa suas manhãs e pode voltar a sonhar. Passa levemente a mão pelos livros e encontra seu transporte para fora da realidade. Dadas suas condições, as coisas que lia e imaginava eram seu modo de enxergar a vida e o mundo como realmente são. A cada parágrafo, um sorriso aberto como se tudo que ele visse fosse algo novo e inusitado. Após um período de total silêncio, pois o efeito da leitura era quase anestésico, levanta-se, separa alguns exemplares e se dirige até o balcão. Com toda educação, agradece os serviços prestados, se despede da jovem moça e dirige-se novamente para a rua. De volta ao “mundo real”. O quão real era esse mundo?
Mais uma vez na rua, toma o caminho de casa, o caminho do seu mundo real... Os ruídos e a algazarra continuam, embora não haja tantos transeuntes como pela manhã. Ele entra no supermercado, pede ajuda a um atendente que de bom grado lhe guia por entre as seções e ajuda com as compras. Ele deixa o supermercado, toma novamente o rumo de casa e segue por entre esbarrões e empurrões. De repente, uma pequena saliência na calçada prega-lhe uma dura peça. Ele tropeça e cai, juntamente com suas compras e seus livros. Alguém o ajuda...uma moça muito educada que lhe ampara pelo braço. Ele não parece bem e ela o carrega por boa parte do caminho. Ela o ajuda a atravessar a rua, um de seus maiores obstáculos em suas caminhadas diárias, se despede e fita nossa personagem, de um jeito quase maternal, até que ele se perde na multidão e ela retoma seu itinerário.
Nosso herói enfim alcança seu porto seguro, seu abrigo, seu lar...o único lugar onde ele pode se sentir a vontade, sem ser tratado com descaso ou ser alvo da curiosidade alheia. Ele abre a porta e entra. Enfim a salvo. Larga as compras e os livros em cima da mesa, tira o casaco e pendura-o perto da porta. Transita pela casa sem esbarrar num móvel sequer e alcança a cozinha. Prepara seu jantar, após o qual sua única diversão são os livros.
Já é tarde e o sono bate intenso como a escuridão lá fora e a escuridão de sua própria vida. Ele se deita, se cobre e fecha os olhos. Nesse momento ele atinge o mundo que ele criou baseado em livros, escritos em braile, onde todas as portas estão abertas. Ele atinge o seu mundo real...o mundo onde o fato de ser cego não o difere de ninguém.
Ele adormece...

01 dezembro 2006

R$ 1,00 e a Lei de Gérson

Texto: Bruno Rodrigues
Foto: re-curso.blogspot.com

Ele andava calmamente. Subiu a escada rolante e, enquanto subia, admirava a mulher que descia. Sim, ela descia. Descia ao lado. Os dois trocaram olhares rápidos, mas apenas trocaram. Nada demais. Ele subiu e ela desceu.
A estação do metrô estava cheia e agitada. Era domingo. Lembrou-se de que não comprara o bilhete e que teria que enfrentar a fila da bilheteria. Ele odiava filas. Entrou nela e esperou. Enquanto esperava, ouvia o barulho dos trens chegando na estação. Uns chegavam e outros saíam, mas todos faziam barulho. Todos chegavam. Todos saíam. Ouvia tudo. Observava tudo. As portas dos trens que abriam e fechavam, o casal que se beijava loucamente ao seu lado, a senhora a sua frente contando as moedas. Ele observava tudo e todos. Estava na fila e não tinha nada para fazer a não ser observar.
A fila andava. Devagar, mas andava. Tentou trocar olhares com outra garota. Loira, alta, de olhos claros. Tentou, mas não conseguiu. Virou o rosto e continuou a observar.
Subitamente, lembrou-se do seu MP3. Colocou os fones de ouvido, se desligou e ligou o aparelho. Queria ouvir música. Não queria mais observar.
Finalmente estava chegando a sua vez de comprar o bilhete. Estava com pressa e queria chegar logo em casa, descansar, comer, dormir. Estava exausto. Restava a sua frente apenas uma pessoa. Uma senhora gorda e cheia de sacolas. Era bonita, mas era gorda. Era bonita, mas cheia de sacolas. Queria passar a frente da senhora gorda, mas não poderia. Se fizesse isso, seria desaprovado. “Desaprovado por quem?”, ele pensou. Mas só pensou. Estava cansado, não queria mais pensar, nem ultrapassar.
Enfim chegara a vez da senhora comprar o bilhete. Logo seria a sua vez. Começou então a preparar o dinheiro. Queria dar trocado, pois seria atendido mais rápido. Pegar o bilhete e ir embora. Era só isso que ele queria. Mais nada. Lembrou-se de que tinha R$ 3,00 no bolso direito da bermuda. Sim, ele usava bermuda. Estava frio, mas estava de bermuda. Precisaria de apenas R$ 0,10. A passagem era R$ 2,10, sendo assim pegaria R$ 2,00 dos R$ 3,00, mais R$ 0,10 e pronto. Isso bastaria. Ainda por cima, sobraria R$ 1,00. Não faria nada com esse R$ 1,00, mas sobraria.
Chegou sua vez. Ele se dirigiu à bilheteria, pôs a mão no bolso direito e pegou os R$ 3,00. Juntou aos R$ 0,10 que tirara da carteira enquanto olhava para a senhora cheia de sacolas, colocou o dinheiro no guichê, pegou seu bilhete unitário e saiu.
Começou a andar apressado em direção às catracas. Não tinha mais fila. Enquanto andava colocou a mão no bolso direito e não achou seu R$ 1,00. De repente parou! Não achou seu R$ 1,00 que sobrara em sua conta. Vasculhou seus bolsos, direito, esquerdo, de trás, da frente e nada. Não tinha mais o que vasculhar. Ele tinha certeza. Ele tinha R$ 3,00. A conta era simples. R$ 3,00 menos R$ 2,00 seria igual a R$ 1,00. Ficou inconformado. Será que estava louco? Não faria nada com esse R$ 1,00, mas queria achá-lo. Era dele. Teria que encontrá-lo. Ele estava convicto. Tinha sim R$ 3,00 no seu bolso direito e esse R$ 1,00 teria que aparecer. Pensou: “Quem seria capaz de pegar R$ 1,00 do meu bolso? Era tão pouco”. Com um sobressalto, pensou que poderia ter dado os R$ 3,00 ao cobrador e o cobrador, sem perceber, não devolveu. Decidiu, então, ir até o guichê onde comprara o bilhete. Caminhou decidido, com passos largos e fortes, com uma expressão seria em seu rosto. Parou na frente da bilheteria e, ao abrir a boca para falar ao cobrador, este pegou uma moeda de R$ 1,00 e, sem olhar em seu rosto, deixou-a em cima do guichê, chamou o próximo da fila e continuou atendendo aos usuários do metrô. Não disse uma palavra. Não deu um olhar. Apenas devolveu o R$ 1,00. Apenas continuou. Ele pegou seu R$ 1,00, que agora estava em moeda e não mais em papel, e foi embora. Caminhava e pensava. Pensou bastante. Pensou mais um pouco, pois agora, ele queria pensar. Andava e pensava, pensava e andava. Fazia tudo ao mesmo tempo. Passou pela catraca pensando, entrou no metrô pensando, sentou no banco pensando. Sim, ele pensava: “Queriam roubar meu R$ 1,00?”.